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Exceto para alguns turistas azarados, a recente erupção do vulcão Puyehue, que cobriu de cinzas lugares paradisíacos no Chile e na Argentina, passou ao largo para a maioria dos brasileiros. Sem vulcões, maremotos e terremotos significativos, mais uma vez, temos elementos para pensar que Deus é brasileiro.
Será mesmo? Não temos essas catástrofes, mas temos enchentes avassaladoras e, de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE, somos os campeões mundiais de raios: em uma década, foram aproximadamente 57 milhões de descargas, acima do Sudão que teve cerca de 50 milhões. Nos Estados Unidos, são cerca de 30 milhões por ano. Entretanto, em termos relativos, ou seja, por km², as maiores incidências ocorrem em países da África Equatorial, com destaque para o Congo.
Um raio pode atingir a velocidade de 220 mil km por hora e temperatura de 30 mil °C, capaz de levar a sílica à fusão. Com tais características, não causam surpresa os enormes prejuízos a vidas e propriedades. O estudo do INPE revelou que, entre 2.000 e 2.009, 1.321 pessoas foram mortas por raios no Brasil e os prejuízos materiais chegaram a aproximadamente R$ 10 bilhões. Nos Estados Unidos, por ano, são cerca de 50 mortes e US$ 5 bilhões em danos materiais. Pior ainda: muitos cientistas acreditam que o fenômeno das mudanças climáticas provocará o aumento da incidência de relâmpagos em todo o mundo. Infelizmente, a maioria das pessoas subestima o poder de destruição dos raios.
Os prejuízos materiais causados pelas descargas atmosféricas são variados: incêndios em florestas e edificações, afetando particularmente estruturas de madeira e fiações elétricas, explosões em locais de concentração de materiais combustíveis, destruição de linhas de transmissão de energia elétrica e cortes de energia com as consequentes perdas em horas de trabalho e equipamentos eletrônicos. As pessoas atingidas por raios podem sofrer danos neurológicos, perda de memória, mudança de personalidade e problemas emocionais. O calor intenso pode destruir sapatos e roupas. Partes do corpo em contato com metais, como jóias ou fivelas de cinto, são queimadas. Idem para áreas de suor, como pés, axilas e peito.
Não surpreende, pois, que os raios sejam velhos conhecidos da indústria do seguro. No Brasil, o seguro contra queda de raio é tradicional e integra a cobertura básica dos seguros padronizados multirriscos residenciais, condominiais e empresarias, junto com as coberturas contra incêndio de qualquer natureza e explosões por gás. Nesses seguros, as apólices contemplam a cobertura básica, que é obrigatória, e coberturas adicionais optativas. Tais coberturas adicionais – por exemplo, contra vendaval, alagamento, danos elétricos, quebra de vidros, responsabilidade civil etc – não podem ser contratadas sem a cobertura básica. Assim, nos seguros multirriscos, o segurado tem necessariamente garantia de proteção das paredes, telhados, aparelhos eletroeletrônicos e quaisquer outros bens cujos danos sejam derivados de queda de raio.
Mas atenção: a garantia básica cobre apenas os danos resultantes de descargas ocorridas dentro do terreno da edificação segurada. Para se precaver de danos causados à edificação ou a seu conteúdo por queda de raio fora do respectivo terreno, o segurado deve contratar coberturas adicionais, por exemplo, a de danos elétricos que garante indenização por perdas causadas a fios, enrolamentos, chaves, circuitos, conduítes, materiais de acabamento e aparelhos elétricos em decorrência do calor gerado por acidentes elétricos, inclusive, decorrentes de queda de raio fora do terreno do imóvel segurado. Outro ponto importante é que, para o seguro ser acionado e validado, deve haver vestígio material inequívoco da ocorrência, caracterizando o local do impacto e o curso da descarga elétrica. Por isso, é importante ao segurado, num eventual sinistro, abrir um registro de ocorrência policial e obter um laudo de ocorrência do Corpo de Bombeiros ou da Defesa Civil.
O mesmo esquema se aplica a outros seguros multirriscos como os de automóveis, transporte de cargas e riscos de engenharia onde as respectivas coberturas básicas incluem garantia de indenização por danos causados aos bens segurados (móveis ou imóveis) por queda de raios. Idem, no caso do seguro habitacional, onde a apólice DFI (Danos Físicos ao Imóvel) contém a mesma cobertura. Há, entretanto, que notar a exclusão de cobertura no caso do seguro de garantia estendida. De fato, junto com roubo, perda, incêndio, impactos etc, o relâmpago é considerada evento de causa externa ao produto e, como tal, não acionável para efeito desse seguro.
De qualquer modo, com ou sem seguro, vale a pena saber como se precaver dos raios. Para isso, é preciso afastar os mitos. Segundo o Insurance Information Institute (III), são três os mitos mais comuns sobre o fenômeno:
1. Um raio nunca cai no mesmo lugar. Fato: um raio pode atingir o mesmo local várias vezes, especialmente, se houver um objeto com ponta, alto e isolado.
2. Se não está chovendo ou não há nuvens, você está seguro contra raios. Fato: um raio pode cair a mais de cinco quilômetros da tempestade, fora da área de chuva.
3. Pára-raios atraem raios. Fato: pára-raios não atraem raios, eles apenas oferecem um caminho para descarregar a eletricidade até a terra. Se sua casa estiver no caminho de um raio, ela será atingida, haja ou não pára-raios na vizinhança.
Para se proteger dos relâmpagos, o I.I.I. recomenda o seguinte:
1. Se você estiver ao ar livre e uma tempestade se aproximar, procure abrigo dentro de um prédio, idealmente, em uma estrutura com um sistema de proteção contra raios.
2. Se isso não for possível, procure abrigo num carro com capota de metal e mantenha portas e janelas fechadas. É a estrutura metálica do carro que protege contra raios e não os pneus de borracha. Se não há nenhum edifício ou carro para se abrigar, vá para uma área de baixa altitude na terra e fique longe de árvores. Um dos lugares mais perigosos para se estar numa tempestade é sob uma árvore.
3. Tenha um bom sistema de proteção contra raios para sua casa ou empresa. Esse é um investimento inteligente, pois oferece proteção comprovada para a sua família, casa e valores, mormente em zonas propensas a raios.
4. Saiba que é perfeitamente seguro tocar e dar os primeiros socorros a alguém que tenha sido atingido por um raio. Você não vai receber um choque elétrico por isso.