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Genebra Seguros
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Tudo parecia correr bem para a economia brasileira até que um novo vírus entra em cena e promove uma grande alteração nas nossas chances de obtermos um crescimento mais forte para este ano. O coronavírus teve origem na cidade chinesa de Wuhan e se revela altamente contagioso, porém pouco letal para o perfil etário da população brasileira. Naturalmente, fica um ponto de interrogação sobre os possíveis impactos que a disseminação do novo vírus terá sobre a economia brasileira. Para a elaboração da carta de conjuntura de março pensamos nisso e voltamos à prancheta. Com as informações disponíveis, tentamos moldar um novo cenário para a economia brasileira em 2020.
Primeiro ponto importante, lembrar o básico: Incerteza é inerente à atividade econômica e quando temos um evento não previsto (um choque no linguajar dos economistas) ela aumenta. Por si só um novo vírus já diminui o grau de previsibilidade da economia. Para piorar, não temos um horizonte de quando e como a sua propagação será controlada, ou mesmo de uma medicação específica, muito menos uma vacina. Obviamente, neste cenário, a incerteza vai crescer e com ela a volatilidade no mercado de câmbio, de ações, etc. Isso porque a primeira reação é a compra ativos seguros (dólar, ouro, papéis de dívida de países desenvolvidos, ações de empresas não envolvidas diretamente com o choque, entre outros), com consequente fuga de papéis ou moeda de economia desequilibradas (com baixo crescimento e dívida pública crescente, como a brasileira). O resultado final é mais volatilidade, mais incerteza na medida em que não sabemos como a economia vai reagir aos impactos do novo vírus. Isso realimenta as expectativas (que já são pessimistas) e pronto, temos um dólar a R$ 4,50.
O segundo impacto é sobre a economia real (em especial sobre a produção e consumo). Como o coronavírus (Covid-19) possui uma fácil transmissão, o risco de virar uma pandemia é alto. Para tentar impedir isso, muitos governos têm limitado a circulação de pessoas. As primeiras consequências já foram noticiadas: paralisação da produção de smartphones, cancelamento de passagens aéreas, congressos, feiras e outros eventos em variadas áreas. Milhões de pessoas deixam de circular e seu impacto sobre a economia é nítido. As primeiras estimativas são de uma redução em 0,3 p.p. no nosso crescimento, ou seja, em janeiro a previsão indicava um PIB de 2,2% para o Brasil em 2020, agora 1,9%. Sem uma agenda de reformas e o executivo insistindo em um discurso de constante conflito com o Congresso, essas previsões já estavam sendo revistas para baixo, com o coronavírus deve cair ainda mais…
Importante ressaltar que temos previsões bem mais pessimistas não apenas para o PIB brasileiro, mas para a economia internacional. O alerta foi feito pelo economista Nouriel Roubini , um dos poucos analistas que conseguiram anteciparam a crise econômica de 2008. Para ele, existe o risco de disrupção na economia internacional primeiro pela importância da China na produção de bens finais, depois por ser fornecedor de matérias-primas para outros países. Só a queda do PIB chinês (que representa 16% do PIB mundial) já é um problema para o crescimento econômicos mundial em 2020. Para complicar diversos conglomerados econômicos dependem da China. Nesse sentido, o leitor tem que ficar alerta, pois o cenário pode piorar!
Mas, objetivamente, o que pode acontecer? Primeiro, o câmbio (provavelmente) vai continuar alto. Nesse sentido, o Real vai continuar com a atual trajetória de desvalorização. Isso poderia auxiliar nossas exportações, certo? Nem tanto, pois com uma demanda internacional mais fraca e com a redução nos preços de commodities (produtos primários que predominam na nossa pauta de exportação) esse movimento de desvalorização pode não compensar a queda na demanda e no preço dos produtos que exportamos. Para piorar, a China (nosso principal parceiro comercial) deve crescer menos neste ano. Definitivamente, este cenário não parece auxiliar nossas exportações.
Outro ponto importante são as cadeias globais de produção. Existe uma interdependência entre o que é produzido aqui no Brasil e na China. Assim, quando temos uma paralisação da produção chinesa de matérias-primas importantes para a indústria brasileira, as fabricas não conseguem produzir por falta de insumos. Mesmo que a demanda não caia, a empresa não tem como produzir! Com isso, o lucro das empresas deve cair, reduzindo o preço de suas ações, acentuando o ciclo de baixa nas bolsas de valores. Caso a limitação na circulação de pessoas persista na China, a produção deve permanecer prejudicada, reduzindo não apenas o PIB chinês, mas também o brasileiro e mundial.
Sobre o setor público também persiste uma visão pessimista, pois com a redução da atividade econômica, a arrecadação de impostos deve cair, afetando o frágil desempenho fiscal dos estados e da União. Aqui no Rio Grande do Sul, que tenta construir uma recuperação fiscal, isso será fator importante na continuidade dos atrasos no pagamento dos servidores do executivo, além de limitar a sua capacidade de investimento.
Infelizmente, os impactos deste choque no Brasil não ficam limitados aos pontos discutidos acima (como o setor de turismo que já sente a redução no fluxo de pessoas). De todo modo, o leitor já deve ter percebido que existe uma interdependência entre as economias e quando um choque desta magnitude atinge o mundo, os seus impactos não ficam limitados a uma economia, mas sim ao planeta. Isso explica o nervosismo dos mercados e o prosseguimento da sua volatilidade. Na próxima carta de conjuntura teremos mais informações sobre o desenvolvimento do coronavírus no Brasil e, com isso, uma melhor fotografia do que pode acontecer na nossa já combalida economia.