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Desde 1970, a Swiss Re, uma das maiores resseguradoras do mundo, acompanha os desastres naturais no planeta bem como o número de vítimas e as indenizações pagas pela indústria de seguros.

Qualquer que seja a causa – aquecimento global, mudança climática, ciclos solares etc – e ainda que possa haver alguma contagem a menos no início do período, o fato é que esses fenômenos apresentam nítida tendência de crescimento. Isso pode ser visto nos gráficos abaixo: entre a década de 70 e a primeira década do novo milênio, o número médio anual de catástrofes naturais cresceu 257%; nesse mesmo período, as indenizações anuais pagas pela indústria de seguros passaram, em média, de US$ 3,3 bilhões para US$ 33,4 bilhões, um acréscimo, portanto, de 910%.  Idem para o número médio de vítimas anuais que subiu de 74 mil para 93 mil, portanto, 25% a mais.

O custo significativo desses eventos em vidas e recursos materiais representa um desafio único para segurados, seguradoras e governos. Para entender isso, é preciso saber que existem diferenças entre riscos catastróficos e riscos não catastróficos. Os primeiros, relacionados a enchentes, terremotos, furacões, tsunamis, erupções vulcânicas etc, afetam muitas pessoas e empresas simultaneamente, gerando uma grande demanda de indenizações que podem colocar em risco a solvência das seguradoras. Em certos casos, nem mesmo o total de ativos de uma seguradora é suficiente para cobrir a demanda de indenizações.

Acresça-se a isso o fato de que os riscos catastróficos são eventos de baixa frequência e alta severidade para os quais as séries estatísticas existentes são pouco confiáveis no sentido de oferecer uma base segura de previsão. Daí a conhecida exclusão, na maioria das apólices, de cobertura de danos ou perdas causados por fenômenos da natureza de caráter extraordinário como inundações, terremotos, maremotos etc. Quando existem, tais coberturas têm de ser contratadas em separado.

Outra é a situação dos riscos não catastróficos. Nesses casos, ao agregarem riscos de um grande número de segurados, largamente independentes entre si, riscos esses que ocorrem e são reportados frequentemente há décadas, as seguradoras são capazes de prever seus efeitos em termos de valores e quantidades esperadas de danos e, portanto, cobrar prêmios que lhes permitam formar reservas que indenizem tais danos bem como lucrar com isso. Por exemplo, o risco de um incêndio em Belo Horizonte não é correlacionado com o de um desmoronamento em Fortaleza. Nem o de uma batida de carro em São Paulo com o de um roubo de veículo em Campo Grande. Por outro lado, nenhuma seguradora concentraria sua carteira de seguro residencial em imóveis numa única quadra.

Essa condição não é, em geral, existente no caso das catástrofes naturais, pois os riscos dos segurados são normalmente correlacionados entre si. No exemplo anterior, se o desmoronamento for causado por um terremoto ou uma erupção vulcânica, é bem provável que o dano não se restrinja a um ou outro segurado numa área restrita, mas a um grande número de pessoas e numa área extensa, gerando enormes pedidos de indenizações que podem por em risco a solvência das seguradoras envolvidas. Pense-se, por exemplo, na enchente do inicio do ano na região serrana do Rio de Janeiro. Ou nos terremotos que devastaram recentemente o Chile, Haiti e Japão. Subitamente, as seguradoras teriam recebido milhares, talvez, milhões de pedidos de indenização em seguros de vida e de propriedades por eventos de dificílima previsão com grave risco de excederam suas capacidades de pagamento.

Felizmente, o mercado de seguros tem mecanismos para cobrir alguns desses riscos catastróficos. O mais conhecido de todos é o resseguro, ou seja, o seguro das seguradoras. As resseguradoras são empresas de grande porte capazes de diversificar globalmente a subscrição de seus riscos. Assim, a cobertura de prejuízos causados, por exemplo, por uma enchente num dado país pode não ser um grave problema para elas se esse risco estiver numa carteira de riscos similares, numerosos e independentes entre si em vários países ao redor do mundo.

Outro é a emissão de “bônus-catástrofe” que são obrigações emitidas pelas seguradoras e vendidas a investidores. Se nenhuma catástrofe ocorre, o investidor recebe principal e juros elevados, conforme o risco subscrito. Se o desastre ocorre, o principal e/ou juros são postergados ou perdidos e a seguradora pode usar o dinheiro para pagar as indenizações.

Ainda assim, o consenso é de que a cobertura de riscos de catástrofes naturais (e também geradas pelo homem como, por exemplo, radiação nuclear, terrorismo etc) pelos mercados privados de seguros e resseguros é menor do que seria desejável tanto em abrangência quanto em valores. O mecanismo do resseguro é um custo adicional para as seguradoras e nem sempre disponível pela própria dificuldade de agregação de riscos numerosos e independentes. E o mercado de bônus-catástrofe ainda é pequeno frente às perdas derivadas de desastres naturais. Conclusões que preocupam mais ainda quando se observa a trajetória crescente desses fenômenos em todo o mundo.

E o Brasil? Não temos vulcões ou furacões nem histórico de terremotos significativos, mas as enchentes e as secas avassaladoras são nossas conhecidas de longa data. E segundo as previsões dos climatologistas, espera-se aumento tanto da ocorrência quanto do impacto desses eventos no Brasil em função das mudanças climáticas. Segundo a Swiss Re, durante o período de 1900-2006, as inundações representaram 59% dos desastres naturais totalizados no país e os deslizamentos de terras, frequentemente causados por chuvas torrenciais, 14%. Desde 2000, as enchentes causaram perdas médias anuais de cerca de US$ 250 milhões e mataram quase 120 pessoas por ano. Na pior enxurrada do país, enchentes no Rio de Janeiro e em São Paulo mataram mais de 800 pessoas, fizeram mais de 100 mil desabrigados e causaram perdas econômicas estimadas em US$ 1,2 bilhão, aquém dos US$ 460 milhões em ajuda destinada pelo governo para a recuperação das cidades e moradias.

A conscientização das populações, o incentivo à proteção securitária bem como a prevenção e a ação governamental, em harmonia com o setor privado, são, portanto, essenciais para mitigar as perdas que são esperadas em função dos caprichos da natureza.

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