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Frente às insurtech, isto é, empresas inovadoras que usam tecnologia digital de ponta na precificação, distribuição ou oferta de seguros, o futuro das seguradoras e corretoras de seguro tradicionais parece uma incógnita.
Os números são de fato impressionantes. Segundo relatório da KPMG, o fluxo global de investimentos de capital de risco nesse mercado passou de US$ 326 milhões em 2012 para US$ 2,1 bilhões em 2017. Se somarmos a isso os recursos respectivos em fusões e aquisições, o crescimento é ainda maior, de US$ 1,2 bilhões para US$ 7,4 bilhões no mesmo período.
No Brasil, não há dados tão precisos, mas José Prado, idealizador do evento Insurtech Brasil 2018, revelou que desde meados de 2017 o número de startups em seguros (outro nome das insurtech) mapeadas pelo site que fundou (o Conexão Fintech) passou de 27 para 57. E a criação em 2017 pela SUSEP de grupo de trabalho sobre o tema é prova de sua relevância no país.
No exterior, até o momento, a maioria das insurtech se concentra em aspectos não relacionados à subscrição de riscos tais como: a) serviços de comercialização que tornam mais rápidos e baratos os processos de busca/aplicação/compra/pagamento de seguro; b) serviços de regulação e liquidação de sinistros que tornam mais fácil enviar avisos de sinistro, ajuste e pagamento de indenizações; c) fidelidade de clientes e mitigação de perdas, por exemplo, via aplicativos que recompensam os segurados que conduzem de modo mais seguros seus automóveis e d) inteligência de negócios pelo desenvolvimento de novas fontes de dados ou de novas ferramentas para análise dos dados disponíveis. Há, entretanto, exceções como a Metromile, que vende seguro de automóvel baseado numa taxa fixa por milha ou a Lemonade que vende seguros residenciais “peer to peer” (P2P).
A importância das insurtechs é que as inovações que praticam podem revolucionar os mercados de seguros em que operam tanto pelo deslocamento das empresas tradicionais quanto pelo rompimento das fronteiras que separam seguros e bancos ou por mudanças na distribuição de seguros.
O potencial perturbador das insurtech também provoca reações nas empresas tradicionais. Algumas tem procurado adotar métodos mais ágeis, semelhantes aos usados ??pelos startups de tecnologia. O conhecimento do negócio e da regulamentação ainda é importante e uma barreira a entrada de competidores, mas o fator chave passou a ser a habilidade de desenvolver relações de negócios com o novo cliente da era digital. Outra reação tem sido a aquisição de participação acionária numa insurtech. Isso é interessante para a receptora, que obtém capital adicional e tranquiliza os órgãos reguladores, e para a investidora que pode modernizar a oferta de seus produtos e serviços e adquirir novas tecnologias. Uma terceira possibilidade são parcerias em que cada empresa atua naquilo em que é mais eficiente, os startups como provedores de serviços auxiliares e as seguradoras como vendedoras de seguros.
Esse tipo de relacionamento levanta indagações sobre a forma como a distribuição de seguros será estruturada no futuro. Tradicionalmente, as seguradoras têm confiado em corretores para distribuir seus produtos e adquirir clientes. Mas, principalmente em seguros massificados, é possível imaginar um novo modelo de distribuição em que ganha importância a venda por telefone e/ou pela Internet. Os canais digitais de comunicação evoluíram tanto que se tornaram inevitáveis como meio de marketing e vendas de seguros. Além disso, explodiu a disponibilidade de dados sobre os clientes e, mais importante, sobre seus comportamentos quer via mídia social, uso de aplicativos para smartphone, dados de navegação, dados de localização e dados de direção (por exemplo, serviços de carro conectados). Assim, apesar da maioria das insurtech estar ainda concentrada na prestação de assistência e outros serviços a seguradoras e clientes, nada impede imaginá-las entrando cada vez mais em marketing e vendas de seguros.
Contudo, permanecem em aberto questões importantes sobre como esses canais de distribuição evoluirão na medida em que os dados se tornarem ainda mais disponíveis e com menos controle por parte dos clientes. Inevitavelmente, isso determinará ações corretivas dos órgãos reguladores cujo objetivos principais são, como se sabe, proteger os consumidores e manter a estabilidade do mercado de seguros.