Categorias: Economia, Seguradoras

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A maioria das análises de evolução do mercado de seguros enfatiza o comportamento da variável “prêmios” (emitidos, diretos, retidos ou ganhos). Essa é uma constante não só no Brasil, mas na maioria dos países.

Porém, a receita de prêmios, sendo o produto de preços vezes quantidades comercializadas de apólices ou de unidades expostas, esconde o quanto de sua variação se deve a mudanças de preços e de quantidades.

Uma saída é deflacionar os prêmios por um índice geral de preços ou por um índice de preços ao consumidor, obtendo-se assim os prêmios em moeda de poder aquisitivo constante. Um crescimento “em termos reais” dos prêmios indicaria mais seguramente expansão das quantidades transacionadas no mercado.

Melhor seria ainda utilizar um índice setorial de preços de seguros. No caso de automóveis, o IBGE calcula o subitem IPCA – seguro voluntário de veículos que integra o grupo “Transportes” do IPCA “cheio”.

Temos também outro indicador de preços, na verdade, a receita média por exposto obtida pela divisão dos prêmios auferidos com as coberturas de seguro APP (Acidentes Pessoais a Passageiros), Casco e RCFV (Responsabilidade Civil Facultativa de Veículos) pelo número de veículos expostos, conforme informado pelo menu AUTOSEG da SUSEP.

As discrepâncias entre eles são evidentes. Se deflacionarmos a arrecadação pelo IPCA “cheio” obtemos um crescimento real de 25,7% (131,3% sobre 84%) entre o segundo semestre de 2007 e o primeiro semestre de 2018. Se deflacionarmos pelo IPCA – seguro voluntário de veículos, a variação real sobe para 96,2% (131,3% sobre 17,9%).

O preço médio das coberturas, por outro lado, subiu 42,9%, a meio caminho entre os acréscimos do IPCA e de seu subitem, e a quantidade de expostos se elevou em 61,9%.

O problema do IPCA “cheio” como deflator de receita de seguros é que, sendo um índice baseado em centenas de grupos de bens e serviços, provavelmente não reflete o que ocorre no mercado de seguros de automóveis.

Já no caso do IPCA – seguro voluntário de veículos, a construção do índice reúne dados insuficientes. Segundo a publicação do IBGE “Sistema Nacional de Índices de Preços ao Consumidor – Estruturas de Ponderação a partir da Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008-2009”, a pesquisa se baseia numa amostra compreendendo apenas quatro modelos de automóveis semelhantes, cada modelo vinculado a uma companhia seguradora responsável pelas informações.

Conforme a publicação, “extrai-se, assim, um valor para o prêmio cobrado por esta seguradora. Procedendo de maneira análoga para os outros três modelos, calcula-se uma média (aritmética), resultado que representará o valor do prêmio de seguro médio para o período corrente. Como o que convém ao IPC é a variação mensal, compara-se esse valor obtido com o resultado alcançado no período anterior, incluindo-a de maneira apropriada no índice”.

O IBGE não especifica quais os modelos utilizados, quais as seguradoras consultadas e se padroniza o perfil de risco dos motoristas. Em um mercado com dezenas de modelos e de seguradoras e com vários perfis de risco (baseados em sexo, idade e localização), a inadequação é patente. Não surpreende, portanto, que sua evolução seja tão diferente do IPCA “cheio” e do preço médio das coberturas calculado com base no AUTOSEG.

Esses fatos desaconselham a utilização tanto do IPCA “cheio quanto do IPCA – seguro voluntário de veículos como deflatores de receita de prêmios de seguros correspondentes e deveriam também estimular o IBGE a melhorar a qualidade de seus índices de preços.

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